Os ativos brasileiros enfrentam nova volatilidade nesta segunda-feira, depois que apoiadores do ex-presidente, Jair Bolsonaro, invadiram importantes prédios do governo e do STF, ecoando a Invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021 nos Estados Unidos, disseram analistas. As imagens dos atos terroristas na tarde de domingo, e a inação da lei que deixou o prédio da Suprema Corte e outros locais com graves danos internos e chocaram os espectadores, incluindo muitos do setor financeiro.
Ricardo Lacerda, fundador e CEO do banco de investimentos brasileiro BR Partners, disse esperar que os mercados reajam com volatilidade no curto prazo, principalmente na segunda-feira, dado o maior risco institucional. “O fim da polarização parece estar longe e pode esgotar as energias do novo governo”, disse Lacerda. O ETF iShares MSCI Brazil, listado na Europa, caiu 2,4% no início das negociações na segunda-feira. As ações listadas nos EUA da Petrobras (PETR4.SA) e da Vale caíram no pré-mercado.
Invasão de Brasília ecoa menos no Mercado do que Posse de Lula
A moeda real do Brasil e o índice de referência da Bovespa, que superou outros mercados emergentes na América Latina durante a maior parte de 2022, já havia sido atingido por turbulência nos primeiros dias após a posse do presidente Luis Inácio “Lula” da Silva, em 1º de janeiro devido à preocupação com o aumento dos gastos governo. Na sexta-feira, ambos tiveram desempenho melhor depois que Lula disse que o país pode crescer mantendo as finanças do governo sob controle.
Ainda assim, alguns analistas disseram que qualquer reação negativa do mercado aos últimos eventos pode ser temporária. “Dado que a situação parece estar sob controle em Brasília, espero que qualquer impacto na classe de ativos seja de curta duração”, disse Alejo Czerwonko, CIO para Mercados Emergentes para Américas do UBS Global Wealth Management.
Emy Shayo Cherman, estrategista de ações da América Latina e do Brasil no JPMorgan, concordou, mas acrescentou que o impacto político pode ser mais prolongado, já que a ruptura de domingo deve encorajar Lula. “À medida que o presidente fica mais forte e a oposição mais fraca, pode-se ver uma maior radicalização da esquerda, talvez levando a agenda mais longe do que se poderia pensar”, disse Cherman.
Carlos Eduardo Furlanetti, professor da FIA Business School, espera uma forte reação de instituições como o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, apoiando o presidente o que pode ajudar politicamente o governo Lula no médio prazo. Bruno Komura, analista da gestora de recursos Ouro Preto, espera uma reação inicial negativa nos mercados, com juros subindo e câmbio e ações caindo, mas a forte reação institucional pode ajudar os ativos a se recuperarem até o final da semana.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, destaca que os manifestantes brasileiros foram ajudados pela branda aplicação da lei em Brasília, algo que não aconteceu no Capitólio dos Estados Unidos e que aumenta a percepção de risco político no país. No entanto, isso pode ser revertido se as instituições mostrarem unidade contra os manifestantes, acrescentou.
A violência revelou uma forte divisão na sociedade, disse Enrico Cozzolino, sócio da gestora Levante Investimentos. “Temos visto a falta de consenso desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.”
Enquanto grandes setores do setor bancário brasileiro tendem a apoiar Bolsonaro devido às suas credenciais de livre mercado em relação ao Partido dos Trabalhadores de Lula, a principal associação industrial do setor condenou veementemente a violência de domingo. Isaac Sidney, chefe do grupo do setor bancário Febraban, pediu “reação firme” contra os atos terroristas de domingo. “Acho que a situação vai se normalizar rapidamente“, disse Cristian Maggio, chefe de estratégia de portfólio da TD Securities em Londres. “No entanto, é um evento que vale a pena ficar de olho, pois pode não ter terminado ainda.”
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Fonte: Agência Reuters
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