As duas maiores economias da América do Sul estão iniciando negociações para criar uma Moeda Única do Mercosul. A dupla disse ter “decidido avançar nas discussões sobre uma moeda sul-americana comum que pudesse ser usada para fluxos financeiros e comerciais, reduzindo custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa”. O presidente, Luiz Inácio “Lula” da Silva, e o presidente da Argentina, Alberto Fernández, escreveram em artigo conjunto publicado no jornal argentino Perfil Domingo que queriam promover uma maior integração entre os dois vizinhos.
O anúncio foi feito no momento em que Lula visita a Argentina em sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o cargo no início do mês. Em entrevista coletiva em Buenos Aires, ele disse que o estabelecimento de uma moeda comum para o comércio reduziria a dependência do dólar americano, cuja forte alta no ano passado foi dolorosa para países de todo o mundo.“Se dependesse de mim, teríamos o comércio exterior sempre na mesma moeda dos outros países para não depender do dólar”, disse Lula.
Apesar das conversas, não há planos reais para a criação dessa moeda unificada no momento, de acordo com o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad. Ele minimizou o escopo da ideia em conversas com repórteres, segundo a Reuters. Ele ressaltou que a escassez de dólares na Argentina está pesando no comércio entre os dois países e que os líderes do governo estão estudando possíveis soluções, mas isso não significa que o real brasileiro esteja em declínio.
“O comércio está muito ruim e o problema é justamente a moeda estrangeira, né? Então estamos tentando encontrar uma solução, algo em comum que possa fazer o comércio crescer”, disse Haddad. Contudo, os analistas estão céticos.
Moeda Única do Mercosul parece ‘Uma ponte longe demais’
Os dois países fazem parte do bloco comercial Mercosul, que também inclui Paraguai e Uruguai. A conversa sobre a criação de uma moeda comum surgiu periodicamente desde a sua fundação em 1991. Win Thin, chefe global de estratégia de mercado da Brown Brothers Harriman, disse que as conversas estão ressurgindo agora porque o Presidente Lula está mais alinhado politicamente com Fernández do que seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os mercados emergentes também foram duramente atingidos pelo forte dólar americano, gerando reclamações sobre seu domínio no sistema financeiro global. O dólar subiu quase 8% em relação a uma cesta das principais moedas em 2022, tornando as importações de alimentos e energia mais caras e elevando o custo do serviço da dívida denominada em dólares.
Ainda assim, os investidores duvidam que os esforços para criar uma moeda comum na região ganhem força. “Eu realmente não acho que isso vá a lugar nenhum”, disse Thin. “Para Brasil e Argentina, realmente parece uma ponte longe demais.”
O Brasil – lidando com uma forte alta nas taxas de juros – enfrenta uma forte desaceleração no crescimento este ano. O Banco Mundial estima que sua economia crescerá apenas 0,8% em 2023, abaixo dos 3% de crescimento em 2022. Mas a posição econômica do Brasil tem sido muito mais robusta do que a da Argentina nas últimas duas décadas, disse Thin. “A credibilidade dos bancos centrais e instituições no Brasil é muito mais forte”, disse ele.
A Argentina, que deixou de pagar sua dívida soberana pela nona vez em 2020, continua sendo atingida por uma inflação debilitante. Os preços ao consumidor no país subiram 95% nos 12 meses até dezembro. Os esforços para controlar a situação forçaram o país a reduzir seu estoque de reservas estrangeiras e limitar os investimentos empresariais. Hasnain Malik, chefe de pesquisa de patrimônio da Tellimer, disse em uma nota de pesquisa que a divergência nas circunstâncias econômicas tornaria extremamente difícil para os dois países entrarem na mesma página. “Brasil e Argentina estão muito longe da convergência em política econômica e desempenho necessários para lançar [uma] união monetária”, disse ele.
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Fonte: Veja
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